Sem noção de amor fraterno// O homem agride o irmão,// Num ato que mostra o inferno// Que traz no seu coração.
Rosa Regis Brincando com os Versos
Pensares que se transformam //espalhando poesia, //pegam carona no vento// enchem meu ser de alegria
Textos
O POETA AMÉRICO PITA
E O FOGARÉU NO SEU SÍTIO

(cordel-homenagem)

(Homenagem ao meu colega em
poesia e amigo do coração, o poeta
e pesquisador da Poesia Popular: Manoel
Américo de Carvalho Pita - o Pita)


Por Rosa Regis

Senhoras e meus Senhores,
Povo do meu coração,
Eu vou contar pra vocês
Uma história de ação
Que aconteceu com um rapaz
Trabalhador e capaz,
Mas teimoso como o Cão.

É a história de um colega
Que é o fino em poesia
E um grande pesquisador
De cordel e cantoria,
É um dos “Poetas Vivos
E Afins” dos mais ativos
Desta nossa freguesia.

Seu nome Américo Pita,
O conheci em Natal,
Em uma Sociedade
Que é mesmo fenomenal!
Dele, amiga me fiz,
Foi o destino quem quis.
E não há amigo igual.

Mas, deixemos de floreios!
Tratemos do caso em si.
Que foi mesmo para isso
Que comecei isto aqui.
Falemos, pois, do ocorrido
Com o colega querido,
Sem papo, sem qui-qui-qui.

Estava nosso colega
Lá no seu sítio, juntando
Folhas secas pra queimar
Feliz, só, cantarolando,
Assim... Sozinho. Ninguém
Por perto, quando lhe vem
A idéia, o quengo bolando.

Nem reparou que o vento
Estava forte e a favor
Do terreno do vizinho.
O nosso pesquisador
Riscou o fósforo e acendeu
O fogo. E o que se deu
Eu vou contar pro Senhor.

Num zupt! Mais que depressa!
O fogo se espalhou
Pelo capim quase seco
Que, rapidinho, queimou.
E as fagulhas, voando,
Foram mais e mais queimando.
E o cabra velho endoidou.

Viu logo que o fogaréu
Ao terreno do vizinho
Invadiria num instante.
E o coração, miudinho,
Com medo do que seria
A desgraça, em correria
E a tropeçar no caminho,

Uma mangueira e um balde
Pega, e começa a encher
O balde e a carregar,
Tentando o fogo conter.
Luta, em total desespero,
Já sentindo o corpo inteiro
A queimar e a tremer.

Ele, que se achava ateu,
Incrédulo, sem confiança
Em Deus, naquele momento,
Enche-se, pois, de esperança
Quando lembra que Ele existe.
E, assim sendo, persiste,
Pensando: - Deus é Bonança!

E, finalmente, consegue
Ao fogaréu debelar.
No limite! Só deu tempo
Ali, no chão, arriar.
Respiração ofegante,
Pensava naquele instante:
-Desta não vou escapar.

Pernas e unhas tostadas
E um calor infernal,
Resfolegando, puxando
O ar de forma anormal.
Todos os membros “morreram”.
E dormentes permaneceram
Por um bom tempo. Afinal,

Relaxou e se entregou
Às Mãos do Mestre Divino,
E divagou... A pensar
No tempo em que era menino,
Pensando: - Se eu escapar
Desta, prometo mudar,
Com certeza, o meu destino.

Foi passando a tremedeira...
Com lentidão, levantou
Do chão e, pro velho carro
Devagar se encaminhou.
Sentou-se à direção,
Com a chave na ignição,
Tremendo ainda, o ligou.

Foi saindo, devagar,
Em busca de atendimento
Em um posto de saúde.
Este era o seu pensamento.
Com a ajuda do Divino
Mestre, ao seu destino
Chegou. E em bom momento.

Atendido com presteza,
Foi logo encaminhado
Pelo Plano de Saúde
Ao local recomendado.
O cara estava entupido
De fumaça. Requerido
Era um local adequado.

Deu entrada no São Lucas
Indo logo pra UTI.
Atendido com urgência.
Três dias depois, o vi
Já no seu apartamento,
Sendo atendido a contento.
E, ao vê-lo, não resisti

E disse: - Vou escrever
O que aconteceu contigo.
- E espero que a lição
Te sirva, meu caro amigo!
- Tu precisas descansar.
Também parar de fumar.
Será esse o teu castigo!

E ele, muito engraçado,
De batinha aberta atrás
Mostrando o ceroulão,
Uma piadinha faz:
- Mesmo assim de batinha,
Garanto minha amiguinha,
Inda sou macho demais!

Aí, sorrindo, contou-nos
O que aconteceu consigo
Quando do primeiro banho,
A mim e ao nosso amigo
MC, que não parava
De sorrir – já gargalhava
Tanto que deu dor de umbigo.

Disse ele: - Nunca passei
Vergonha tão grande assim!
Não sei por que não mandaram
Um homem dar banho em mim!
Quem veio foi uma dona
Despachada e bonitona,
E já foi dizendo assim:

- Vamos lá tomar um banho?
- E enquanto me revirava,
Suspendendo-me da cama
A minha roupa tirava.
E aí fiquei peladão,
Nuzinho tal qual Adão,
Fazendo “quadrão” de “oitava”.

- Tal qual a Pomba da Paz,
A tal mocinha de branco
Limpava bem minhas partes.
E um pequeno solavanco
Eu senti naquele instante.
Pensei: Que coisa instigante!
De vergonha, fiquei branco.

Porém, quando nos contava
Sua façanha, ele ria
À bandeiras despregadas.
Já esquecera a agonia
Porque passara sozinho,
Sem socorro, ali, nuzinho.
E até da cirurgia.

O seu interesse agora
Só estava em conversar
E em comer, pois lhes digo:
O cabra é bom no traçar!
- É comida de hospital?
Tem nada não! Ta legal!
E garante nada sobrar.

E ainda pergunta a moça
Que lhe trouxe a refeição:
- Será que eu poço pedir
Mais um pouco de feijão?
E arrematando, com graça:
- E uma boa cachaça?
Ao menos um “quarteirão”!

Deixa mesmo o prato limpo,
Tomando o suco também.
Doença naquele corpo,
Mais parece que não tem!
Está sendo bem cuidado;
Tratado e alimentado.
Logo, logo, estará bem.

Sua filhota, a quem ama
De todo o seu coração
O acompanha noite e dia
Com total dedicação.
Mas, num ou noutro momento,
Ele ainda é rabugento
Querendo bajulação.

Sai dali pronto pra outra!
Mas disse que vai parar
Com o vício do cigarro.
Espero possa agüentar.
Pois após o décimo oitavo
Dia, Pita, o nosso bravo
Poeta, volta a fumar.

Achando-me sua amiga,
Atrevi-me a lhe puxar
As orelhas, lhe passando
Um sermão, pra variar,
Dizendo: - Queres viver?!
Então pares de beber
E, é claro, de fumar!!

- Espero que, pro seu bem,
Você cumpra o prometido!
Porém, se não conseguir,
Não deixa de ser querido.
- Um abraço, meu caro Pita,
Da amiga que acredita
Em ti em qualquer sentido.


Fim




Natal/RN - Brasil
Rosa Regis
Enviado por Rosa Regis em 07/02/2010
Alterado em 04/08/2015
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